segunda-feira, 30 de julho de 2007

Entrevista.01

Cabelos grisalhos, uma careca ainda modesta para a idade - 78 anos -, bem humorado. Quem o vê à primeira vista, nem desconfia que essas características pertençam a um dos pioneiros e um dos nomes mais importantes do design do Brasil: Alexandre Wollner.

Acompanhe uma parte da entrevista desse grande artista:

Qual é a função do design?
A função do design é fazer projetos que não significam coisas emocionais, "coisas" de artistas. O designer tem naturalmente um talento artístico, mas se ficar só nisso, não consegue fazer uma comunicação legal e nem consegue desenvolver o trabalho dele com novas propostas. As propostas ficam mais ou menos sempre iguais, põem um pouco de cor, um pouco. Fazer a estrutura, a linguagem de uma empresa, não só visual, isso é uma função que o design deve alavancar dentro de um projeto de instituições. Criatividade é uma coisa inerente a nós. Temos essa possibilidade. Precisamos abrir para dar orientação, uma lógica, criar algo que todo mundo entenda, não pode ser complicado, tem de ser simples.

Qual é a aplicabilidade do design no cotidiano das pessoas?
A gente faz um tipo de trabalho que todo mundo entende. A gente dá uma certa linguagem que caracteriza a pessoa, o comportamento dela, o comportamento que os produtos devem ter, o comportamento que a comunicação deve ter, que os sinais devem ter, para aproximar as pessoas e se ligarem a isso, dar uma referência. Quer dizer, eu compro um produto não por causa da marca. A marca não significa nada. Só dá a assinatura e a impressão digital. A marca pode ser maravilhosa, se a empresa não tiver um produto bom, cai também.

Então não é preciso um olhar diferenciado pra ver o design?
Não, nada disso. A gente sabe trabalhar com a intuição das pessoas, a percepção, tem de aprender isso. Ciência, percepção. Como é que as pessoas vão perceber? Se eu falar, todo mundo tem de entender. Eu não falo academicamente de jeito nenhum. Falo com todo mundo assim, porque se eu conversar com um cliente de maneira acadêmica, ele fica meio chateado, cria uma distância, o doutor e tal. Embora se tenha aquela idéia de estruturas complicadas, a simplicidade é o trabalho final. Isso é essencial.

Então o design não tem uma nacionalidade?
Não. Ele deve estar a função de certas culturas. Eu posso fazer um projeto local e esse projeto local tem uma característica, ótima, boa de facilidade, que pode me levar até em nível internacional. Mas eu tenho de pensar nessa comunidade na qual estou trabalhando. Se eu faço roupas, tenho de usar a medida de regiões. Uma roupa de São Paulo, que eu posso usar super grande, no Nordeste não dá, porque todo mundo é pequenininho, baixinho. Não funciona.

O caráter do design nacional teria de ter uma tendência cosmopolita?
Não. Não existe o design nacional hoje. Não existe mais design americano, japonês. Ele é global. Global e local. Esse local não quer dizer que não tenha uma linguagem internacional. Ele tem também uma linguagem global porque nós pegamos informações de todo mundo. A gente assiste televisão, vê o mesmo cinema, sabemos o que acontece em todo mundo. O que existe é design de brasileiros, feito no Brasil por brasileiros. Não existe mais design brasileiro, nem japonês. O Brasil é um país focado na matéria-prima, na agricultura, etc. etc. Não é focado na indústria. Não existe indústria brasileira. Eu falo isso e choca todo mundo. Não existe indústria brasileira. Agora eu pergunto, o que fazem os alunos de Design Industrial depois? Você pode trabalhar numa empresa da Motorola, numa empresa da Philips, mas o que vai fazer é acompanhar o processo industrial. Você pode fazer o Fox da Volkswagen, mas o projeto é alemão mesmo, só a forma estética, isso não é automóvel.O Brasil perdeu esse bonde, e perdeu também esse bonde da imagem cultural.

No inicio da sua carreira, o senhor foi bem influenciado pelas revistas...
A informação vinha de fora. A "Look Magazine", que era do diretor de cinema Stanley Kubrick, e vários outros fotógrafos que eram maravilhosos. A Life naquele tempo era uma revista muito importante e a gente olhava o que eles faziam. Todos os importantes gráficos e designers foram para os EUA, que eram um país com uma indústria muito bem desenvolvida. Então, as informações que a gente recebia eram dos EUA. Paris era o mercado comercial da arte. Só era reconhecido quem tava em Paris, quem tava em outro lugar não era. Mesmo o Modrian tava em Paris, Kandinsky, Picasso. Mas era só Paris. Você não sabia de nada. Você não sabia da Bauhaus, não sabia do Dadaísmo, toda essa cultura européia, construtivista da Rússia. A gente só veio saber depois da Guerra, no começo dos anos 1950. E uma das pessoas mais importante que trouxe essa visão foi o Pietro Maria Bardi, do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e a Lina Bo Bardi que trouxeram essa cultura. Então foi uma revelação. Esse mundo maravilhoso existe!

ver entrevista na integra:http:www13.unopar.br


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